Do Brasil à Bolívia: o sonho internacional de jaleco branco
Por Leny Chuquimia

Em Santa Cruz de la Sierra, a cidade mais populosa da Bolívia, o português já faz parte do cotidiano em cafés, bibliotecas e salas de aula universitárias. O que há apenas uma década podia parecer anedótico hoje tornou-se algo comum.
A cada semestre, centenas de jovens brasileiros atravessam a fronteira em busca de um objetivo que, em seu país, muitas vezes parece distante: estudar Medicina. Thiago Holanda Silva, de 18 anos, é um deles.
Nascido no norte do Brasil, em uma região amazônica onde o calor lembra o clima de Santa Cruz, decidiu deixar sua cidade natal para vestir um jaleco branco e realizar o sonho de tornar-se médico. Hoje, cursa o segundo semestre na Universidade Franz Tamayo (Unifranz) e afirma com convicção que atravessar a fronteira foi “a melhor decisão da minha vida”.
“Na Bolívia há mais oportunidades e, além disso, a prática começa cedo. Aqui é possível estudar e se preparar bem para o futuro”, assegura.
Uma história familiar que reflete uma tendência regional
A escolha de Thiago não foi por acaso. Seu pai conhecia a Bolívia há anos por motivos profissionais e enxergou no país uma oportunidade para que os filhos tivessem acesso a uma formação universitária de qualidade.
Com o tempo, a decisão de estudar Medicina na Bolívia transformou-se em um projeto familiar. Pais, irmã e irmão mudaram-se junto com Thiago. Hoje, os três irmãos seguem o mesmo caminho acadêmico em Medicina.
Antes de chegar a Santa Cruz, Thiago esteve em La Paz, sede do governo, como parte de uma missão de sua igreja. Essa experiência permitiu-lhe conhecer a cultura boliviana sob outra perspectiva: caminhou pelas ruas da cidade, visitou pontos turísticos e, principalmente, conviveu com a população local. Essa vivência o convenceu de que a Bolívia não seria apenas um lugar de passagem, mas um novo lar.
“O que mais me surpreendeu foi a hospitalidade. Aqui encontrei um país aberto, que nos recebe bem como estudantes e nos integra à sua vida”, recorda.
O apelo de estudar Medicina
A história de Thiago é representativa de um fenômeno em crescimento: a mobilidade acadêmica de estudantes que buscam formação fora de suas fronteiras. Em países como Brasil, Argentina ou México, a concorrência por uma vaga em cursos como Medicina é altíssima.
Milhares de jovens prestam exames de admissão, mas apenas uma parcela reduzida consegue acesso. Os custos em universidades privadas também representam uma barreira para muitos.
A Bolívia, por outro lado, vem se consolidando como destino acadêmico por diversas razões. Além de um custo de vida mais acessível, as universidades bolivianas — em particular a Unifranz — oferecem um modelo educacional inovador: infraestrutura moderna, programas direcionados a estudantes estrangeiros e, sobretudo, a metodologia de “aprender fazendo”.
Essa abordagem permite que futuros médicos tenham contato com pacientes e cenários reais desde os primeiros semestres, algo que, em muitos países, ocorre apenas em etapas avançadas da graduação.
“Escolhi a Unifranz porque oferece inovação, tecnologia e facilita o ingresso de estudantes brasileiros. Fiz minha inscrição ainda no Brasil e, quando cheguei, tudo já estava organizado”, relata Thiago.
Uma experiência multicultural
Estudar em outro país envolve mais do que frequentar uma sala de aula. Significa adaptar-se a um idioma diferente, a novos costumes e a uma concepção distinta de educação.
Para muitos jovens estrangeiros, essa é exatamente a riqueza da experiência. O contato com colegas de diferentes nacionalidades amplia a visão de mundo e prepara para exercer a Medicina em um contexto globalizado.
Em Santa Cruz, Cochabamba ou La Paz, as salas de aula tornam-se espaços de intercâmbio cultural. Thiago vive essa experiência como uma oportunidade:
“Aprendi muito além da anatomia e da fisiologia. Estou aprendendo a me desenvolver em um ambiente multicultural, e isso vai me servir para toda a vida”.
Desafios e oportunidades de estudar no exterior
O caminho não está isento de desafios. Os estudantes devem adaptar-se a um sistema acadêmico distinto, lidar com a saudade do país de origem e, em alguns casos, aprender um novo idioma técnico.
No entanto, aqueles que vivenciam essa experiência adquirem vantagem competitiva: resiliência, abertura cultural e formação prática que os diferencia no mercado de trabalho.
No caso de Thiago, a saudade não é protagonista. Ele fala da Bolívia com entusiasmo e sobre sua carreira com segurança pouco comum para alguém de sua idade.
“A prática está me ajudando muito, especialmente no contato direto com a comunidade. Estou convencido de que essa experiência influenciará minhas especializações e a forma como exercerei minha carreira”, assegura.
A trajetória de Thiago sintetiza um movimento cada vez mais visível na América Latina. Mas, além das estatísticas, permanecem histórias humanas. Histórias que lembram que a educação não tem fronteiras e que a busca pelo conhecimento é, acima de tudo, uma jornada pessoal e coletiva rumo a um futuro melhor.