Helios One: tecnologia boliviana para salvar vidas em incêndios florestais

Por Paula Beatriz Cahuasa

A crise ambiental boliviana causada pelos incêndios florestais gerou uma necessidade urgente de proteger aqueles que arriscam suas vidas na frente de fogo. Nesse contexto, Gabriel Matheus Janco de Freitas, estudante de Engenharia de Sistemas da Universidade Franz Tamayo, Unifranz, desenvolveu o Helios One, um sistema de monitoramento inteligente que busca prevenir acidentes e salvar vidas em missões de alto risco, como as enfrentadas por bombeiros e brigadas de resgate.

«Minha maior motivação foi um incidente que aconteceu em minha família. Meu tio, bombeiro em São Paulo, morreu em uma operação devido a um vazamento de gás. Esse fato me marcou e me impulsionou a criar uma solução que ajudasse a salvar vidas», explica o estudante, relembrando a origem pessoal do projeto.

O Helios One é um dispositivo que monitora os sinais vitais, os níveis de gás e a localização por GPS dos bombeiros ou socorristas em ação. O sistema baseado na Web permite o acesso a esses dados em tempo real a partir de qualquer navegador, facilitando a tomada rápida de decisões em situações críticas. Se um bombeiro apresentar sinais de hipóxia, fadiga cardíaca ou intoxicação, o sistema alerta os colegas para que intervenham antes que a situação se agrave.

Além disso, se uma pessoa desmaiar ou ficar presa, o GPS poderá localizá-la com precisão. «O sistema permite a detecção precoce de situações que podem levar a uma tragédia. Não se trata apenas de reagir, mas de antecipar o perigo», acrescenta o jovem desenvolvedor.

O dispositivo inclui um sensor de gás que avisa sobre possíveis vazamentos durante as missões, o que é particularmente útil em incêndios urbanos ou industriais, onde substâncias tóxicas podem agravar o risco. Esse componente foi uma inspiração fundamental para o projeto, pois o acidente de seu tio envolveu uma explosão de gás em um porão.

O desenvolvimento do Helios One enfrentou vários desafios. Um deles foi a resistência dos materiais usados para fabricar o dispositivo. “Na Bolívia, é difícil obter filamentos de impressão 3D que sejam resistentes ao calor extremo”, diz Janco. Além disso, a conectividade é limitada em áreas rurais ou florestais, o que dificulta a transmissão contínua de dados. No entanto, apesar desses obstáculos, os primeiros resultados têm sido promissores.

Atualmente em fase de protótipo, o Helios One foi concebido e desenvolvido nas disciplinas de projeto integrador do curso de Engenharia de Sistemas da Unifranz. Gabriel espera que o dispositivo possa ser implementado em breve em unidades de combate a incêndios em La Paz e em outras regiões do país. Para isso, ele está trabalhando na incorporação de sensores mais precisos e na redução do tamanho do sistema para facilitar sua integração aos trajes dos socorristas.

Desde 2018, a Bolívia vem sofrendo uma série devastadora de incêndios florestais que, em 2024, atingiu seu ponto mais crítico: 12,6 milhões de hectares arrasados, 57% dos quais eram florestas. As causas são diversas, mas o uso generalizado do “chaqueo” – queima para fins agrícolas – e a falta de regulamentação ambiental contribuíram para o desastre.

E a América Latina não é exceção, com vários países sul-americanos vivendo uma realidade semelhante.

Nesse cenário, os bombeiros e as brigadas de resgate enfrentaram enormes riscos com recursos limitados. Embora nenhum número oficial de vítimas tenha sido divulgado, os relatórios indicam que as condições extremas e a falta de equipamentos adequados comprometeram a segurança de muitos voluntários.

A falta de tecnologias preventivas tem sido uma constante. Projetos como o Helios One vêm para preencher essa lacuna. «É um sistema projetado para funcionar onde a tecnologia atual não chega. A ideia é que o dispositivo não dependa de grandes infraestruturas e que seja útil mesmo em áreas com conectividade ruim», diz Janco.

O projeto e o desenvolvimento do dispositivo representam um componente essencial dos Projetos Integradores da formação profissional da Unifranz, promovendo a interação de conhecimentos de diferentes áreas. Por meio de uma abordagem prática, os alunos não apenas fortalecem suas habilidades e aprendizado, mas também adquirem competências transdisciplinares que lhes permitem abordar e resolver problemas reais da sociedade.

Com o Helios One, Gabriel não apenas fornece uma ferramenta tecnológica útil, mas também propõe uma visão humanitária da inovação.

«Não se trata apenas de programar ou montar sensores. Trata-se de pensar em como a tecnologia pode cuidar daqueles que cuidam de nós», conclui.

avatar de autor
Paula Beatriz Cahuasa

Deja una respuesta

Tu dirección de correo electrónico no será publicada. Los campos obligatorios están marcados con *