Inovação Unifranz: lápis com sementes e filtros impressos em 3D, um projeto que germina e purifica

By Leny Chuquimia

Os filtros impressos em 3D utilizam carvão ativado para purificar a água.

Você já viu um lápis capaz de dar vida a uma planta ou de se transformar em um filtro de água impresso em 3D? Ambas as ideias pertencem ao ECOFUTURE, um projeto criado por estudantes que decidiram reinventar o cotidiano. Sua proposta é escrever, plantar e purificar.

“A poluição é um problema tanto na água quanto no ar. Com este projeto, buscamos desenvolver alternativas ecológicas e tecnológicas para reduzir o impacto ambiental. Ao combinar biodegradabilidade e impressão 3D, conseguimos dois produtos: o Ecopen e o Ecofiltro”, explica Paola Pacosillo, estudante da Universidade Franz Tamayo (Unifranz).

O projeto ECOFUTURE é composto por Yaithza Vergara, Paola Pacosillo, Daniela De La Fuente e Marcel Ticona Maidana. Sua proposta — lápis ecológicos com sementes e filtros de água modulares impressos em 3D — constitui uma dupla tecnológica que integra criatividade, sustentabilidade e democratização do conhecimento.

O projeto é um dos seis desenvolvidos no Workshop Fab Lab do Futures Week 2025, realizado entre os dias 10 e 13 de novembro, em La Paz. O evento foi organizado pela Unifranz, com o apoio do The Millennium Project, da Rede Ibero-Americana de Prospectiva (RIBER) e da iniciativa 2030 Construindo Futuros. Durante quatro dias, seis equipes multidisciplinares desenvolveram soluções digitais sob metodologias de design, prototipagem e experimentação.

Um lápis que escreve hoje e germina amanhã

O primeiro protótipo desenvolvido pelo grupo reinventa um objeto tão simples e universal quanto o lápis tradicional. Em vez de madeira ou plásticos convencionais, os estudantes projetaram um modelo fabricado com biossilicone caseiro, um material flexível, biodegradável e acessível.

“Ele é feito de material biodegradável, como glicerina, gelatina incolor e água. Foram necessários vários testes até encontrar a mistura exata que proporcionasse a firmeza adequada ao lápis. Os moldes foram impressos em 3D”, explica Yaithza Vergara.

Além do material, a principal inovação está concentrada na extremidade do lápis, onde é incorporada uma cápsula de sementes destinada ao plantio após o término de sua vida útil para escrita. Em vez de se tornar lixo, o resíduo é plantado no solo, onde o material remanescente se degrada sem poluir, liberando as sementes.

Essas cápsulas contêm espécies nativas ou aromáticas que, ao germinar, contribuem para a reflorestação urbana e ajudam a melhorar a qualidade do ar. Dessa forma, o ato de escrever é transformado em um ciclo completo que culmina com o plantio, permitindo que um objeto cotidiano participe ativamente da restauração ambiental.

Filtros de água impressos em 3D: tecnologia acessível e replicável

O projeto também aborda a necessidade urgente de melhorar o acesso à água potável. Para isso, o ECOFUTURE desenvolveu filtros de água modulares utilizando impressão 3D com filamento PLA biodegradável ou materiais plásticos transparentes.

Esses dispositivos incorporam uma estrutura com compartimentos internos projetados para conter algodão e carvão ativado, seguindo modelos de código aberto que facilitam sua replicação e adaptação a diferentes contextos.

“Em 2016, La Paz (Bolívia) enfrentou uma grave escassez de água: houve racionamento e muitos bairros ficaram sem abastecimento. A água chegava em caminhões-pipa e, muitas vezes, não havia acesso regular ao recurso. Foi pensando nesse problema que surgiu o Ecofiltro, com o objetivo de garantir água segura de maneira simples e acessível”, explica Daniela De La Fuente.

Seu design modular permite ajustes de acordo com o volume de água necessário e o contexto de uso, seja em ambientes educacionais, profissionais ou comunitários. Essa acessibilidade tecnológica converte os filtros em uma solução econômica, leve e de fácil implementação em locais que necessitam de alternativas para melhorar a qualidade da água.

Kits sustentáveis para aprender, criar e transformar

Ambos os protótipos podem integrar kits educativos e profissionais voltados à promoção de práticas ambientais responsáveis, desde a educação básica até o setor empresarial. Mais do que o uso prático, a compreensão do funcionamento dos dispositivos incentiva os usuários a reproduzi-los, adaptá-los ou aprimorá-los conforme suas necessidades.

A iniciativa do ECOFUTURE gera impactos tangíveis em múltiplas dimensões. Contribui para a redução de resíduos provenientes do uso cotidiano de materiais escolares e administrativos, promove a reflorestação urbana por meio do plantio de sementes e facilita o acesso à água potável com dispositivos de baixo custo e replicáveis.

Além disso, fortalece a consciência ambiental ao estimular a participação ativa de estudantes, trabalhadores e comunidades em processos de ciência cidadã e sustentabilidade. Sua adaptabilidade permite que a proposta seja incorporada em campanhas ambientais direcionadas a públicos diversos.

O projeto demonstra que a inovação nem sempre exige grandes investimentos ou tecnologias complexas. Muitas vezes, basta repensar objetos comuns — como um lápis ou um filtro — para iniciar um profundo processo de transformação. O ECOFUTURE não apenas escreve o futuro: ele o planta e o purifica.

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